terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Técnica de regressão em reportagem para Zero Hora

Viagem Fantástica através da Memória
Matéria de Humberto Trezzi para o caderno Vida
Zero Hora de 20 de setembro de 1992

Penumbra, música new age e almofadas coloridas espalhadas pela sala. Cláudia está deitada num colchonete, olhos fechados, coberta por uma manta. Acaba de ser submetida à técnica de relaxamento mental. A respiração é quase inaudível e seu corpo está gelado, apesar do cobertor. Sentada ao lado dela, em posição de flor-de-lótus, está a psicóloga Marilice Cachapuz.

- O que se passa?

- Está quentinho. Não quero sair daqui.

Mais um momento e explode em choro convulsivo, com o rosto contraído em evidente desespero. A psicóloga recomenda calma, diz que o útero é assim, assegura que está tudo bem. Encosta a mão no peito da moça e avisa que vai lhe passar energia. Como que por encanto a face da paciente se descontrai. Ela se acalma, sorri e chora.

Marilice obtém concordância para prosseguir. O choro passa, mas a temperatura do corpo é cada vez mais baixa.

- Avise se surgir alguma imagem. Vamos tentar uma vida anterior.


A partir daqui, a viagem é clandestina. A ciência só admite regressão até a gestação. Psicóloga e paciente, porém, vão ultrapassar esse sinal vermelho para mergulhar na névoa cinzenta da experimentação, acompanhadas pelo reporte Humberto Trezzi.

Depois de tentar, em vão, obter respostas satisfatórias na terapia convencional, a psicóloga Marilice Cachapuz decidiu fazer a paciente Cláudia Dornelles regredir a uma vida passada. Primeiro ela passa pelo período que a ciência chama de regressão de idade. Logo após o trauma do parto e o choro, uma visão nova. Os 10 segundos seguintes demoram a passar. Cláudia afirma então que avistou um túnel, trancado por uma porta.

- Tenta passar. Você pode, incentiva a psicóloga com voz firme.

Passa-se outro intervalo até que Cláudia comemora em voz alta:

- Consegui.

A narrativa prossegue desenfreada, a jovem vomita frases soltas.

- A casa é grande, um baile, estou dançando. Tudo gira, estou tonta. Fugi de casa para me divertir. Danço com um homem mais velho.

- Você fugiu do marido para estar com outro?

- Só para me divertir, adoro dançar e ele não quer que eu saia. Sou muito fraca, doente. Nunca me deixam sair de casa.

Cláudia se vê dentro de um vestido longo e observa uma orquestra, que toca música clássica. – Há uma roda de mulheres falando de mim. Dizem que sou louca por deixar meu marido para vir dançar.

- Que língua as mulheres falam?

- Inglês. Estou na Escócia. Tenho 20 anos de idade.

A psicóloga pede uma data. Cláudia vê um número na cabeceira de uma cama. É 1902.

Silêncio na sala. Cláudia se agita.

- Estou tonta, vou desmaiar. Me levam para casa. Ninguém sabe o que eu tenho.

O choro volta forte.

- Não posso ter filhos, quero tanto. Estou fraca. Minha vida não tem graça, nem posso viajar.

A psicóloga pergunta como tudo terminou.

- Remédio. Tomei bastante. Não tenho mais esperança de sair. Planejei isso.

Cláudia coloca as mãos na garganta e começa a tossir, como se estivesse sufocando. O desconforto da paciente faz com que Marilice decida encerrar a sessão. Pede que a moça se concentre em uma luz violeta que simboliza mudança.

- Te despede dessa experiência negativa. Respira fundo. Sente o peso do corpo, parte por parte. Volta à vida.

Cláudia abre os olhos, pondo fim ao transe.



Nota: A bancária Cláudia Dornelles, 28 anos, se submeteu à terapia de regressão de forma voluntária, e não conhecia a psicóloga Marilice Cachapuz antes deste primeiro contato, ocorrido no Centro de Terapia Holística. Ambas foram apresentadas pela equipe de Zero Hora.


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