Reflexão de Ano Novo
“As guerras
nascem no espírito dos homens, e é nele, primeiramente, que devem
ser erguidas as defesas contra o ódio”.
Frederico Mayor
Nesta
época de festa, onde a humanidade comemora mais um ano da
existência do homem na terra, após o nascimento de Cristo, gostaria de
fazer uma reflexão do que foram estes quase dois mil anos.
Em
25 de dezembro estaremos festejando o nascimento de Cristo. Quem foi esta
figura, cuja passagem sobre a terra determinou tantas mudanças? O que
tinha ele de tão especial?
Relendo
um dos livros de J. J. Benites, Operação Cavalo de Tróia, encontrei um diálogo,
que talvez nos mostre, em que este homem era especial, disse Cristo:
“Vossa falta de capacidade e de vontade de
perdoar vossos semelhantes é a medida da vossa imaturidade e a razão dos
fracassos na hora de alcançar o amor. Mantendes rancores e alimentais vinganças
na proporção direta da vossa ignorância sobre a natureza interna e
os verdadeiros desejos de vossos filhos e do próximo. O amor é
resultado da divina e intima necessidade da vida”.
O
amor do qual nos falou Cristo há dois mil anos e “celebramos” a cada final de
ano está completamente deformado pela visão separatista. A agressão, a
violência, o apego e o orgulho com que vivem muitos dos habitantes deste
planeta, se traduz, na maioria das vezes, por uma troca sutilmente calculista
de carinho e prazer físico, de serviços recíprocos e de luta contra a
solidão e o próprio sentimento de separatividade. Nesta visão
deformada o ódio habita o interior das pessoas, enquanto as armas são um sinal
exterior.
Com
a proximidade do final deste milênio, inúmeras pessoas vem pesquisando uma
forma de estabelecer a paz no mundo. Isto deve-se a insatisfação que um número
cada vez maior de pessoas, vem apresentando, com as formas tradicionais de
pensar, agir e sentir que ao longo dos últimos séculos está sendo imposto
ao homem.
Pierre
Weil, autor de muitos livros entre eles a A Arte de Viver em Paz, nos
fala de uma quantidade muito grande de conhecimentos, acumulada pelo homem
ao longo destes dois mil anos. Mas que, “sem sabedoria para usá-los,
podemos destruir-nos e ao mundo que habitamos”. Estamos vivendo um tempo
extremo, em que a fragmentação da ciência, filosofia, arte e religião chegou ao
seu limite. Porém a mais ameaçadora das fragmentações é a que dividiu o homem
em corpo, emoção, razão e intuição.
Felizmente
uma nova concepção está se formando na consciência humana, ou melhor, antigos
ensinamentos estão sendo resgatados. No início da era cristã o ser humano era
considerado não dual, como uma totalidade corpo/alma/espírito. Ao longo destes
dois mil anos, os cientistas percorreram as mais variadas hipóteses acerca do
homem e sua forma de funcionamento.
Descartes,
por exemplo, postulou que só poderia ser considerado como verdadeiro o que
fosse evidente e que deveríamos dividir cada uma das dificuldades em quantas
partes fossem necessárias para serem resolvidas, surgindo aí as mais
variadas especialidades e a resultante fragmentação do homem. Nesta época a
razão parecia dominar todas as formas de pensamento.
Porém,
outro teórico, que escreveu sobre a Teoria da Relatividade, Albert Einstein, no
início deste século, faz importantes descobertas no mundo da física. A
partir de sua teoria, outras descobertas foram surgindo. Stanislav Grof
refere-se as descobertas da física quântica da seguinte maneira: “Ainda que, na vida prática, diária, o
indivíduo pense em termos de matéria sólida, espaço tridimensional e
causalidade linear, a compreensão filosófica da existência torna-se muito mais
complexa e sofisticada, e se aproxima daquela encontrada nas grandes tradições
místicas do mundo”. Na física moderna, o Universo passou a ser visto como
algo dinâmico e indivisível, cujas partes estão essencialmente
inter-relacionadas e só podem ser entendidas como modelos de um processo
cósmico.
Ao
voltarmos nossos olhos para esta nova concepção do Universo reencontramos as
palavras de grandes filósofos que nos dizem desde a ano 2700 a.C.: “Enquanto Tudo está n’O TODO, é também
verdade que O TODO está em Tudo. O Universo é mental: ele está dentro da mente
d’O TODO.”
O
entendimento desta máxima poderá fazer com que o verdadeiro amor brote no
coração dos homens.
Quando
a alguns anos atrás, ao conversar com um pastor Luterano, lhe disse que o
homem nasceu para ser feliz, percebi uma grande surpresa em seu rosto, como se
estivesse ouvindo esta frase, que para mim é uma verdade, pela
primeira vez. Passados alguns meses, voltou a
perguntar-me se estava convencida, verdadeiramente, a cerca desta razão
encarnatória do homem. Sem pensar muito, respondi-lhe: Sim, o homem nasceu para
ser feliz e deve perseguir esta razão, com todas as suas energias.
Esta
felicidade só será completa na medida que formos capazes de raciocinar com o
coração e de sentirmos com o cérebro. Somente neste momento estaremos voltando
nossos olhos para o caminho do amor: o único que conduz à verdadeira sabedoria.
O
amor, “fecunda-se na compreensão, nutre-se do serviço generoso e aperfeiçoa-se
na sabedoria”.
“A qualidade essencial de qualquer sociedade
humana deriva da qualidade do amor que une seus homens e mulheres”.
Dane Rudhyar
Artigo
publicado no Jornal Exotérico em Dezembro de 1996.