domingo, 18 de março de 2018

A Busca da Paz Interior


A Busca da Paz Interior

Todas as criaturas vivem, até certo ponto, num mundo único. Porém cada uma das muitas espécies existentes, possuem sensibilidades diferentes aos mesmos estímulos, permitindo nossa convivência pacífica e possibilitando partilharmos do mesmo ambiente.

Mesmo os seres de uma mesma espécie diferem em sua percepção. As pessoas variam um pouco quanto à maneira de ver as cores, distinguir tons, assim como cheirar e provar. No decorrer das várias etapas de nossa vida nossas sensibilidades modificam-se ligeiramente à medida que o organismo se altera.

A percepção é um processo muito mais individualista do que se crê normalmente. É um processo ativo e complicado e não espelha necessariamente a realidade. Em primeiro lugar, os nossos sentidos humanos não respondem a muitos aspectos do ambiente que nos cerca. Não temos capacidade de ouvir sons de alta frequência registrados pelos morcegos, ou sentir o cheiro das substâncias exaladas das solas dos sapatos, como os cachorros. Não reagimos a forças magnéticas ou elétricas, como certos insetos, peixes e pássaros. E somos incapazes de ver moléculas separadas ou raios X. Em segundo lugar, às vezes percebemos estímulos não presentes. A estimulação elétrica direta do cérebro pode fazer uma pessoa “ver” coisas ou mesmo “ouvir” vozes. As doenças, o cansaço, a monotonia e as drogas também podem. Em terceiro lugar estão nossas experiências anteriores, expectativas, motivações e emoções também influenciando o que é percebido. As expectativas criadas pelo contexto que vivemos, influenciam o que vemos. A atenção com que registramos os estímulos externos nos fará percebê-los ou interpreta-los conforme nosso momento de vida ou estado de espírito, e ainda, dependerá do tempo e qualidade desta atenção para a memorização que teremos de determinado estímulo, que enviado ao cérebro, este registra os dados percebidos. Sempre que prestamos atenção, é mais fácil encontrarmos sentido nas informações que captamos, associá-las as nossas experiências anteriores e lembrarmo-nos delas mais tarde.

Descrevemos, brevemente, como individualmente percebemos e reagimos diante dos estímulos externos e com isso tentamos passar uma pequena idéia da complexidade do nosso funcionamento. Porém somos seres que escolhemos viver em sociedade e, neste contexto, nossas percepções se inter-relacionam e se complementam, fazendo com que percepções diferentes de um mesmo fato, carregadas por emoções, possam dificultar os relacionamentos.

Nos últimos anos surgiu um modelo científico da mente emocional que explica como grande parte do que fazemos pode ser induzida pelas nossas emoções - como podemos ser tão racionais num momento e irracionais no seguinte - e o sentido em que as emoções têm suas próprias razões e sua própria lógica.

A mente emocional é muito mais rápida que a mente racional, saltando à ação sem parar um momento sequer para pensar no que está fazendo. Sua rapidez exclui a reflexão deliberada, analítica, que é a característica da mente pensante.

As razões que brotam da mente emocional trazem um senso particularmente forte de certeza, subproduto de uma maneira padrão, simplificada, de perceber as coisas e que, pode ser absolutamente intrigante para a mente racional. Nossa mente emocional aparelha a mente racional para seus fins, por isso apresentamos explicações para nossos sentimentos e emoções – racionalizações – justificando-os em termos do momento presente, sem perceber a influência da memória emocional. Neste momento, podemos não ter ideia do que de fato se passa, embora possamos ter a convicção de saber exatamente o que se passa.

O funcionamento da mente emocional é em grande parte específico de um estado, ditado pelo sentimento particular dominante num dado momento. A maneira como pensamos e agimos quando nos sentimos românticos, é inteiramente diferente de como nos comportamos quando estamos furiosos ou abatidos. Na mecânica da emoção, cada sentimento tem seu repertório distinto de pensamentos, reações e até mesmo lembranças.

Se a mente emocional segue essa lógica e suas regras, com um elemento representando outro, nada precisa ser necessariamente definido por sua identidade objetiva: o que importa é como tudo é percebido; tudo é o que parece ser. O que uma coisa nos lembra pode ser mais importante do que o que ela “é”.

Porém se desejamos viver plenamente, com dignidade e paz no coração é necessário não construirmos montanhas com sementes de mostarda. Uma das tendências mais comuns, que nasce da confusão e da falta de autorrespeito, é fazer casos históricos de acontecimentos  triviais. Por um lado, o pequeno é importante, por que, se não consigo vencer os pequenos obstáculos, como posso enfrentar os verdadeiros problemas? Por outro lado, a incapacidade de estimar o valor de uma situação realmente importante é uma consequência dessa nossa instabilidade.

Talvez por falta de contexto pessoal e, portanto, de uma percepção correta para julgar os fatos, ampliamos a importância das trivialidades e deixamos de notar as coisas verdadeiramente valiosas.

Outra situação bastante comum nos nossos relacionamentos é a presença dos pedidos de desculpas. Frases do tipo: esqueci; foi o outro; não sabia que era importante; não tive tempo; ou você não me falou isso, entre outras, infelizmente fazem parte do dia a dia. Em essência a desculpa representa um adiamento de esforços, enquanto as fraquezas internas têm chances de se alastrar.

Assim como criticar alguém é apontar o dedo para a sua própria intolerância e incompetência, dar desculpas é mentir para si mesmo. O uso contínuo de desculpas leva o indivíduo a deixar de acreditar na sua capacidade de mudar.

Muitos obstáculos podem surgir em nossa trajetória na busca da paz interior, porém é necessário não esquecermos que em determinados momentos é importante mudarmos de perspectiva. Como estou vendo aquilo; quem eu sou realmente; quais aspectos do entendimento das leis espirituais posso aplicar nesta situação. Enfim, a oportunidade para desenvolvermos a grandeza existe em cada situação.  Se me considerar pequeno, inútil ou incapaz, naturalmente qualquer dificuldade assumirá uma proporção maior que o que de fato possui.

Marilice Cachapuz
Maio/2000