A Busca da Paz Interior
Todas as criaturas vivem, até certo
ponto, num mundo único. Porém cada uma das muitas espécies existentes, possuem
sensibilidades diferentes aos mesmos estímulos, permitindo nossa convivência
pacífica e possibilitando partilharmos do mesmo ambiente.
Mesmo os seres de uma mesma espécie
diferem em sua percepção. As pessoas variam um pouco quanto à maneira de ver as
cores, distinguir tons, assim como cheirar e provar. No decorrer das várias
etapas de nossa vida nossas sensibilidades modificam-se ligeiramente à medida
que o organismo se altera.
A percepção é um processo muito mais
individualista do que se crê normalmente. É um processo ativo e complicado e
não espelha necessariamente a realidade. Em primeiro lugar, os nossos sentidos
humanos não respondem a muitos aspectos do ambiente que nos cerca. Não temos
capacidade de ouvir sons de alta frequência registrados pelos morcegos, ou
sentir o cheiro das substâncias exaladas das solas dos sapatos, como os
cachorros. Não reagimos a forças magnéticas ou elétricas, como certos insetos,
peixes e pássaros. E somos incapazes de ver moléculas separadas ou raios X. Em
segundo lugar, às vezes percebemos estímulos não presentes. A estimulação
elétrica direta do cérebro pode fazer uma pessoa “ver” coisas ou mesmo “ouvir”
vozes. As doenças, o cansaço, a monotonia e as drogas também podem. Em terceiro
lugar estão nossas experiências anteriores, expectativas, motivações e emoções
também influenciando o que é percebido. As expectativas criadas pelo contexto
que vivemos, influenciam o que vemos. A atenção com que registramos os estímulos
externos nos fará percebê-los ou interpreta-los conforme nosso momento de vida
ou estado de espírito, e ainda, dependerá do tempo e qualidade desta atenção
para a memorização que teremos de determinado estímulo, que enviado ao cérebro,
este registra os dados percebidos. Sempre que prestamos atenção, é mais fácil
encontrarmos sentido nas informações que captamos, associá-las as nossas
experiências anteriores e lembrarmo-nos delas mais tarde.
Descrevemos, brevemente, como
individualmente percebemos e reagimos diante dos estímulos externos e com isso
tentamos passar uma pequena idéia da complexidade do nosso funcionamento. Porém
somos seres que escolhemos viver em sociedade e, neste contexto, nossas
percepções se inter-relacionam e se complementam, fazendo com que percepções
diferentes de um mesmo fato, carregadas por emoções, possam dificultar os
relacionamentos.
Nos últimos anos surgiu um modelo
científico da mente emocional que explica como grande parte do que fazemos pode
ser induzida pelas nossas emoções - como podemos ser tão racionais num momento
e irracionais no seguinte - e o sentido em que as emoções têm suas próprias
razões e sua própria lógica.
A mente emocional é muito mais rápida
que a mente racional, saltando à ação sem parar um momento sequer para pensar
no que está fazendo. Sua rapidez exclui a reflexão deliberada, analítica, que é
a característica da mente pensante.
As razões que brotam da mente
emocional trazem um senso particularmente forte de certeza, subproduto de uma
maneira padrão, simplificada, de perceber as coisas e que, pode ser absolutamente
intrigante para a mente racional. Nossa mente emocional aparelha a mente
racional para seus fins, por isso apresentamos explicações para nossos
sentimentos e emoções – racionalizações – justificando-os em termos do momento
presente, sem perceber a influência da memória emocional. Neste momento,
podemos não ter ideia do que de fato se passa, embora possamos ter a convicção
de saber exatamente o que se passa.
O funcionamento da mente emocional é
em grande parte específico de um estado, ditado pelo sentimento particular
dominante num dado momento. A maneira como pensamos e agimos quando nos
sentimos românticos, é inteiramente diferente de como nos comportamos quando
estamos furiosos ou abatidos. Na mecânica da emoção, cada sentimento tem seu
repertório distinto de pensamentos, reações e até mesmo lembranças.
Se a mente emocional segue essa lógica
e suas regras, com um elemento representando outro, nada precisa ser
necessariamente definido por sua identidade objetiva: o que importa é como tudo
é percebido; tudo é o que parece ser. O que uma coisa nos lembra pode ser mais
importante do que o que ela “é”.
Porém se desejamos viver plenamente,
com dignidade e paz no coração é necessário não construirmos montanhas com
sementes de mostarda. Uma das tendências mais comuns, que nasce da confusão e
da falta de autorrespeito, é fazer casos históricos de acontecimentos triviais. Por um lado, o pequeno é
importante, por que, se não consigo vencer os pequenos obstáculos, como posso
enfrentar os verdadeiros problemas? Por outro lado, a incapacidade de estimar o
valor de uma situação realmente importante é uma consequência dessa nossa
instabilidade.
Talvez por falta de contexto pessoal
e, portanto, de uma percepção correta para julgar os fatos, ampliamos a
importância das trivialidades e deixamos de notar as coisas verdadeiramente
valiosas.
Outra situação bastante comum nos
nossos relacionamentos é a presença dos pedidos de desculpas. Frases do tipo:
esqueci; foi o outro; não sabia que era importante; não tive tempo; ou você não
me falou isso, entre outras, infelizmente fazem parte do dia a dia. Em essência
a desculpa representa um adiamento de esforços, enquanto as fraquezas internas
têm chances de se alastrar.
Assim como criticar alguém é apontar o
dedo para a sua própria intolerância e incompetência, dar desculpas é mentir
para si mesmo. O uso contínuo de desculpas leva o indivíduo a deixar de
acreditar na sua capacidade de mudar.
Muitos obstáculos podem surgir em
nossa trajetória na busca da paz interior, porém é necessário não esquecermos
que em determinados momentos é importante mudarmos de perspectiva. Como estou
vendo aquilo; quem eu sou realmente; quais aspectos do entendimento das leis
espirituais posso aplicar nesta situação. Enfim, a oportunidade para desenvolvermos
a grandeza existe em cada situação. Se
me considerar pequeno, inútil ou incapaz, naturalmente qualquer dificuldade
assumirá uma proporção maior que o que de fato possui.
Marilice
Cachapuz
Maio/2000