terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Reflexão

Reflexão de Ano Novo

As guerras nascem no espírito dos homens, e é nele, primeiramente, que devem ser erguidas as defesas contra o ódio”.
Frederico Mayor

Nesta época de festa, onde a humanidade comemora mais um ano da existência do homem na terra, após o nascimento de Cristo, gostaria de fazer uma reflexão do que foram estes quase dois mil anos.

Em 25 de dezembro estaremos festejando o nascimento de Cristo. Quem foi esta figura, cuja passagem sobre a terra determinou tantas mudanças?  O que tinha ele de tão especial?

Relendo um dos livros de J. J. Benites, Operação Cavalo de Tróia, encontrei um diálogo, que talvez nos mostre, em que este homem era especial, disse Cristo:

Vossa falta de capacidade e de vontade de perdoar vossos semelhantes é a medida da vossa imaturidade e a razão dos fracassos na hora de alcançar o amor. Mantendes rancores e alimentais vinganças na proporção direta da vossa ignorância sobre a natureza interna e os verdadeiros desejos de vossos filhos e do próximo. O amor é resultado da divina e intima necessidade da vida”.

O amor do qual nos falou Cristo há dois mil anos e “celebramos” a cada final de ano está completamente deformado pela visão separatista. A agressão, a violência, o apego e o orgulho com que vivem muitos dos habitantes deste planeta, se traduz, na maioria das vezes, por uma troca sutilmente calculista de carinho e prazer físico, de serviços recíprocos e de luta contra a solidão e o próprio sentimento de separatividade. Nesta visão deformada o ódio habita o interior das pessoas, enquanto as armas são um sinal exterior.

Com a proximidade do final deste milênio, inúmeras pessoas vem pesquisando uma forma de estabelecer a paz no mundo. Isto deve-se a insatisfação que um número cada vez maior de pessoas, vem apresentando, com as formas tradicionais de pensar, agir e sentir que ao longo dos últimos séculos está sendo imposto ao homem.

Pierre Weil, autor de muitos livros entre eles a A Arte de Viver em Paz, nos fala de uma quantidade muito grande de conhecimentos, acumulada pelo homem ao longo destes dois mil anos. Mas que, “sem sabedoria para usá-los, podemos destruir-nos e ao mundo que habitamos”. Estamos vivendo um tempo extremo, em que a fragmentação da ciência, filosofia, arte e religião chegou ao seu limite. Porém a mais ameaçadora das fragmentações é a que dividiu o homem em corpo, emoção, razão e intuição.

Felizmente uma nova concepção está se formando na consciência humana, ou melhor, antigos ensinamentos estão sendo resgatados. No início da era cristã o ser humano era considerado não dual, como uma totalidade corpo/alma/espírito. Ao longo destes dois mil anos, os cientistas percorreram as mais variadas hipóteses acerca do homem e sua forma de funcionamento.

Descartes, por exemplo, postulou que só poderia ser considerado como verdadeiro o que fosse evidente e que deveríamos dividir cada uma das dificuldades em quantas partes fossem necessárias para serem resolvidas, surgindo aí as mais variadas especialidades e a resultante fragmentação do homem. Nesta época a razão parecia dominar todas as formas de pensamento.

Porém, outro teórico, que escreveu sobre a Teoria da Relatividade, Albert Einstein, no início deste século, faz importantes descobertas no mundo da física.  A partir de sua teoria, outras descobertas foram surgindo. Stanislav Grof refere-se as descobertas da física quântica da seguinte maneira: “Ainda que, na vida prática, diária, o indivíduo pense em termos de matéria sólida, espaço tridimensional e causalidade linear, a compreensão filosófica da existência torna-se muito mais complexa e sofisticada, e se aproxima daquela encontrada nas grandes tradições místicas do mundo”. Na física moderna, o Universo passou a ser visto como algo dinâmico e indivisível, cujas partes estão essencialmente inter-relacionadas e só podem ser entendidas como modelos de um processo cósmico.

Ao voltarmos nossos olhos para esta nova concepção do Universo reencontramos as palavras de grandes filósofos que nos dizem desde a ano 2700 a.C.: “Enquanto Tudo está n’O TODO, é também verdade que O TODO está em Tudo. O Universo é mental: ele está dentro da mente d’O TODO.”

O entendimento desta máxima poderá fazer com que o verdadeiro amor brote no coração dos homens.

Quando a alguns anos atrás, ao conversar com um pastor Luterano, lhe disse que o homem nasceu para ser feliz, percebi uma grande surpresa em seu rosto, como se estivesse ouvindo esta frase, que para mim é uma verdade, pela primeira vez.   Passados alguns meses, voltou a perguntar-me se estava convencida, verdadeiramente, a cerca desta razão encarnatória do homem. Sem pensar muito, respondi-lhe: Sim, o homem nasceu para ser feliz e deve perseguir esta razão, com todas as suas energias.

Esta felicidade só será completa na medida que formos capazes de raciocinar com o coração e de sentirmos com o cérebro. Somente neste momento estaremos voltando nossos olhos para o caminho do amor: o único que conduz à verdadeira sabedoria.

O amor, “fecunda-se na compreensão, nutre-se do serviço generoso e aperfeiçoa-se na sabedoria”.

A qualidade essencial de qualquer sociedade humana deriva da qualidade do amor que une seus homens e mulheres”.
Dane Rudhyar


Artigo publicado no Jornal Exotérico em Dezembro de 1996.


Nenhum comentário:

Postar um comentário